Vagarosa lembrança

Abriu-se a porta
O céu escurecido eu fitei
Chorei, sorri e calei
Mãe eu parti para longe
Do afeto de teu abraço a acalentar.

O mundo eu vi
Olhando o teto pálido
O que o branco me dizia
Quando a insônia estacionava
Que o desespero fundia
O pensamento fugaz.

Na TV assistia
O que o tempo não muda
O hipócrita, o sarcástico
Cuspindo o rosto espectador
Na madrugada fria
De falta de sonho, excesso de dor.

Doeu quando a saudade apertou
Doeu quando a porta se abriu
Doeu quando você me faltou
Doeu quando teu sorriso eu não vi.

Emudecido

Teu beijo calou-me a boca
Enclausuram as palavras
Que quase transbordavam
A invadirem teu ouvido.

O que tinhas a dizer?
O que pensavas anteriormente?
Nada além do vago pensamento;
Do mar de solidão azulado.

Atônito e emudecido;
Assim como a flor inabalável
Como a pipa silenciosa no céu a cair
Em dias quentes e sem vento.

Para onde irão meu pensamentos agora?
Para quem os direi?
Aqui escrevo desesperado
Errado e sem correções.

E o amor, novo amor;
Agora que me calou a voz
O que resta emudecido, atônito e inabalável...
Resta-me vivê-lo...

A mercê de dias continuados e infinitos!

M. linda!

Começo e fim

Por que tão leve é a vida
A morrer por besteira
A morrer por um sopro qualquer
E não por uma ventania.

Uma folha caída
Frágil e quebradiça
Que despenca do céu
Num voo sem volta e sem asas.

Assim é a morte encerrando a vida?
Ou a morte iniciando novos dias?
A vida e a morte...
Recomeço e partida.

Um pedaço de vida
Por que não por completa
Sem fim, sem despedidas
Sem choros e velas.

Viva?

Viva ao tiro da arma premeditada
Ao roubo de vidas e olhares
A partida da criança sonhadora
Do pai que saiu e não voltou
Ao velho de dezoito anos.

Viva a roleta russa
Aos miolos e sangue no quadro da parede
Viva, viva, viva
A bala perdida...
Que encontrou um peito feliz.

Viva a juventude
A velha juventude drogada
Jogada na calçada
Desprovida de sonhos e futuros
Viva a faca afiada no "bucho" do trabalhador.

Viva a sociedade alternativa?
Viva a utopia!
A falta de esperança, de prazer...
Viva, viva, viva
Ao suor escravizado do negro
alforriado.


Puta que pariu!

Tempo, temp, tem, te, t,

O tempo que corre depressa
Envelhecendo pensamentos e
processadores
O tempo que não perdoa
Nem mesmo os mais fracos
Fibras, vidro e carne.

A força da gravidada
Que nos faz curvarmos a coluna
O poder do tempo
Que nos faz andar depressa
Apressado e desmedidamente.

O sinal verde ficou e permaneceu
E espero o vermelho ansioso
Ora, um suspiro, uma pausa
Para viver devagarinho
De mansinho demasiadamente.

Espero apressado, apressando...
O tempo não nos dá trégua
Não perdoa, só condena
Espero vivendo
O dia em que o tempo parar!

Besteira

No peito partido pulsa
Um galope manso e triste
Um passo de longa idade
De eternos desencontros.

Partirei para longe de teus olhos
Perto do mar das saudades
Do céu de domingo
Do claustro de sorrisos e alegrias.

Minha linda, meu amor!
Minhas palavras se calaram
Minha voz emudeceu
Com o que pesares.

Chorei calado e sozinho
Como o velho do fim da rua
Do poeta apaixonado
Do meu eu magoado.

Depós sonho

Um lapso de sonho
Um pedaço de perfume
Que invadiu as narinas
E uma recordação nasceu.

Atordoado, meio assim...
A procurar pelo cheiro
Pelo gosto do beijo
Da boca de pequenina flor.

Meus olhos semi abertos
Face de sonho e sono
Tateando o vácuo da manhã
A buscar tua presença.

Meio assim... Atordoado
Enfurecido e inconformado
Restou-me o celular
E a sua voz escutar

Acalmando-me os nervos!

Teamolinda!