De volta

Um milhão de coisas
Resumidas em pedaços de olhares
Em estilhaços de balas
Em pontos de polvora
Perfuradas num corpo velho cansado.

Parece que caminhar
Incansavelmente por nos esmorecer
Parece que correr perseguindo
Um sonho, que seja, um devaneio
Pode nos fraturar como ossos.

Um milhão de olhares
Um milhão de estilhaços;
Procuro você em cada curva
Em cada ponto de viagem
No instante que dura a sua passagem.

Parece que voltar a caminhar
No edifica, às vezes, nos reconstrói
Remonta os pedaços espalhados
Norteia os caminhos perdidos
Traz de volta aquele olhar feliz.

Uma poesia triste

São tantas as voltas que a vida dá
São tanto os desencontros
São tantas as partidas sem voltas
Os beijos que se despendem
Os abraços que derradeiros confortam.

Partiu essa manhã...
Quem dera fosse apenas momentâneo
Fosse assim tão fugaz
Que em uns dias, semanas
O vento trago-os de volta.

Parece que partir
Faz parte, está empreguinado
Nessa rotina cansativa
Nessa locomotiva incansada
Nesse terminal de idas e voltas.

Pois, assim, quando a dor
Não parte, não promete viagem
Quando o instante de choro
Parece eterno e incansável
O tempo tenta encobrir os ferimentos.

Rotin(ando)

Hoje o dia amanheceu...
Claro, radiante e ensolarado.
Coisa típica que o cariri desenha
Que o cariri impõe
Toda vez que os olhos abrimos.

Mais um dia amanheceu
E a rotina, rodopia nas 24 horas do dia
Para que amanheçamos
Tipicamente como o dia anterior
Claro, radiante e ensolarada.

A rotina nos cansa amiúde
O ócio, faz-nos como relógios
Faz-nos como carros de fricção
Cansamos e nos impulsionam
Com um puxar de ré.

Então, bocejo, preguiça aparente
Parece o sono chegar
Parece querer estacionar o corpo
Jogá-lo num lugar qualquer
Mão ou contra mão da rotina de um dia.

Um belo momento

A segurança que causa-me
Na hora do descanso em teu peito
Ouvindo as batidas apressadas
De um depós momentos de carícias.

Parece sumir o mundo
Silenciar o barulho de toda agitação
Ressaltando apenas,
O baque de um peito a batucar.

Abraço-te forte, largo
Como se fizesse parte de um ritual
Como se meus braços, harmoniosamente
Pertencessem ao contorno da tua cintura.

Beijo-te, pois, o ventre
Como se assim selasse
A trajetória rodopiante da boca
Ao encontro certeiro de seus lábios.

Mais uma declaração

Quando as coisas desarrumadas
Parecem não mais ter ordem;
Assim pensava desesperado
Quando a vida desandou.

Quando apenas os analgésicos
Os antibióticos os acessos de soro
Os comprimidos, que comprimem a noite
Foram os meus maiores aliados.

Deus não desampara ninguém
Até mesmo quando dele
Não merecemos um alívio
Porém, ao nosso lado ele está.

Um presente, raro, caro e inimaginável
Fui presenteado com o mesmo.
Ingressou minha vida
E dela não quero jamais que parta.

Ordenou tudo, até minhas manhãs
Parecem mais vivas
Minhas tardes mais alegres
E minhas noites mais acompanhadas.

Eu falo de você minha linda
Que os nossos dias sejam
Tão felizes quanto já somos
E que todos os dias...

Permaneçamos juntos!
Amo-te!

O mundo

Um mundo só onde eu vivo
Tão restrito e prescrito
Quanto uma solicitação medicamentosa
Tão quadrado quando um
Dado viciado de um a seis.

É um mundo permanentemente... Só!
Tão profundo e cibernético
Quando as informações frenéticas
Que viajam rapidamente
Nas veis óticas, transparente e cristalina.

É um gole de cachaça... Brava
Que rasga a garganta no gole
Que queima o estômago
Que alucina os neurônios
Que faz o copo desandar.

É um acesso limpo de soro
É uma marcha lenta e escoltada
É um livro de poesia inacabado
É uma revelação inconstante
É uma raio de luz e uma chame de vela.

Quando...

Quando eu já não for segredo
E teus olhos me olharem rapidamente
Revelando o desconhecido mundo
Trazendo à tona a alegria
Da descoberta de um amor escondido.

Quando beijar-te já não for um sonho,
Fotografias belas lembranças
A carta de amor, fútil nostalgia
E o pensamento algo inatingível
O sol nascerá mais claro e evidente.

Quando aquecer minhas mãos
Com o toque suave e manso das suas;
Dormir e acordar serão detalhes
Corriqueiros que a vida trilha
Pois, tê-la é surrealmente real.

Quando a saudade bater no peito
A tristeza tocar o corpo
Lembro-me, pois, felizmente
Que abriste os olhos essa manhã
Contente a viver mais um dia.

Eu canto - Sol na Macambira

Eu canto o canto que ecoa de todos os cantos
É o som do mar, do vento do norte
Da pedra que quer rolar e inundar o sertão
Eu insisto no caboclo a ficar na terrinha
Plantar feijão, arroz e milho.
Eu canto a procura de Maria
Eu faço poesia, boemia, porém
Não bebo álcool e nem gasolina.

Além de Maria, chamo por Mariana
Uma mistura de mar e Ana
De brisa e calor caririense;
Danço reisado, pulo cabaçal e cirando
Rezo ao meu Padim, a Frei Damião
São Francisco e santo Antônio,
Levo uma reca de menino e mais a mulher
Sem perder a fé e nem a esperança.

Canto por aí nas andanças
De um candeeiro que não acaba
Nem a chuva é capaz de apagá-lo
É o candeeiro solar.
A fé nordestina, a vontade de lutar
A esperança que não morre jamais
Nem na guerra, na fome
E nem na falta de chuva.

Grito por aí procurando uma parte de mim
Que foi levado, que foi roubado!
Falo ainda do sangue derramado
Que brotaram rosas, encharcando o ar
De perfume, é a negra calunga.
De um beijo que o vento levou
Forte e leve direto pra Sidha
Que em oração transformou.

Pego carona na mobilete de seu Zé
Vou a Cajazeiras, rodo Juazeiro
Subo o horto e vou a Canindé
Em menos de alguns trinta minutos
Às vezes prefiro viajar lentamente
No compasso dos tropeiros
Que partem no amanhecer do dia
Tocando a burrarada.

www.bandasolnamacambira.com

Penso

Penso no dia que minhas pernas
Possam sustentar meu corpo cansado
Que as muletas, de alumínio arranhado
Virem apenas uma vaga lembrança
De um compasso já escoltado.

Penso na hora, nos minutos
Que andar não se torne um desafio
Que equilibrar-me;
Seja tão normal e simples
Quanto um respirar ofegante.

É tão fútil...
Um passo após o outro
Um pé depois do outro
Um
ação de cada vez
Uma carga para cada instante.

Penso no dia em que a dor
Que tanto o sono perturba
Possa meu corpo deixar
Eu enfim, poder, aliviado
Fazer poesia sem me incomodar.

Seja!

Se a vida tem que ser assim... Que seja!
Que as águas rolem
Que as forças fluam
Que os fêmus se quebrem
Que as lágrimas desçam.
Se a vida, sem norte flui
Se os dias nascem e morrem
Se os fatos ocorrem depressa
Se pessoas se despedem e falecem
A vida é assim ... Corriqueira.

Que seja!

Teu nome

Escrevi no papel o teu nome
Com tanta inspiração e afeto
Que uma poesia nasceu
Talvez a mais linda, mais poética.

A caneta desenhava incansável
Cada ponto final, cada vírgula
Cada declaração amorosa
Parecia um descrever profético do amor.

Escrevi o sol ilunimando teus cabelos
Assim como a lua clareando a noite
Assim como um sorriso
Contido, alegre e manso.

A caneta, enfim parou...
A tinta deixou de descer frenética
Sobrando espaço no papel branco
Apenas para o teu nome desenhar!

Mário Quintana

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia... Como uma pobre lanterna que incendiou!

Muito massa! Para você Linda, não haveria poesia mais adequada! rsrs

Versinhos

Eu trago esses simples versos
Como se eles fossem meus sentimentos
Como se cada verso, cada pedaço
Cada caquinho de poesia
Descrevesse o pulsar da emoção.

Cheio de pretensões
Porém, desprovido de saberes;
Que faça-te feliz
Em cada palavra iluminada
A clarear o seu dia.

Isolado

Olhando a minha vida de perto
Cadeira de rodas, muletas, pontos, dores...
Parece que ainda permaneço longe
Ainda na margem de erro
Na medida de dispersão!

Ainda fugindo do real;
Mesmo após dias que se passaram
Carros que já transportaram
Salários que já foram pagos
Às vezes o imaginário quer reinar.

É fraqueza? É imperfeição? É falta de coragem?
Eu não sei, eu não sei!
É tão fácil o dizer de Einstein:
“Eu só sei o que nada sei”.
Mas permaneço aqui isolado de qualquer conclusão.

Ilusão de ótica

Hoje acordei e outra parte de mim
Foi carregada para longe, distante!
Talvez um pedaço de mim ainda esteja caído
Jogada no asfaltado ainda frio
De uma manhã de sábado de certo ano.

Talvez cada mão que me carregava
Que me transportava
Uma porcentagem do meu corpo ficava
Espalhada, dilacerada, fraturada...
Inúmeras divisões, subdivisões de um despedaçado.

Um coração partido ainda pulsando
Um olhar quebrado ainda enxergando
Uma vida quase interrompida ainda vivendo;
Parece que os pontos já foram entregues
Parece ser, mas não... Ilusão de ótica.

Foi apenas uma tristeza momentânea
Revestida de uma efêmera lembrança
Agasalhada de uma nostalgia aparente
Um pensamento fugidio
De um dia que não sai do inconsciente.