Suicídio poético

Pensei em um suicídio poético
Cortar de vez a veia poética
Com um estilete barato, enferrujado de tétano;
Enforcá-la quem sabe;
Pendurá-la ao pescoço no sobrado da morte.

Assim eu perderia a vida?
Deixaria de escrever e de pensar... De amar!
Palavras são como farpas cortantes
Ora nos ferem, ora nos exaltam
Flechas sem rumos, sem destinos.

Eu poderia explodir
Coagir ideias, fatos, memórias
Pensando bem, meu corpo é coagido
De pontos, costuras que unem...
Uma carne a outra, um pedaço de pele.

Pois se assim é a vida
Que me cala, que me consome, que me consola
Eu vou vivê-la de tropeços e acertos
De grandes amizades ao meu grande amor
De poesia suicida e palavras afiadas.


Inspira-me

Escrevo, pois, ela me inspira
É como esquecer o tempo
Deixar a vida passar como o Chico
Com suas curvas, seus levantes e baixas
Perceber o sol mais intenso e a noite mais clara.

É contigo com quem divido
Tantos sorrisos e poucas lágrimas
Carícias, dores e alentos.
Molho-te as mãos na minha tristeza
Ilumino-te com meu sorriso amarelo.

Ligo-me a ti, desde sempre!
Pois, como o rumo traçado, destino.
Tu me encontraste, meio entristecido.
E de mim arrancou a felicidade
E a vontade de continuar.

E a ti não há presente ou dinheiro
Que equivalha a tua importância
Minha necessidade de tê-la
De compatilhar e compor
Tudo o nós edificamos.

Calor

Tarde estranha
Um calor que parece Setembro
Que parece sodoma e gomorra
Queimando até as cinzas
Evaporando a última gota de sangue.

Suando as têmporas, a testa
Desce aos olhos e a boca
Como o cortador de cana
O vaqueiro embrenhado na mata
Como o trabalho braçal da morte.

Uma agonia, um desespero
A cabeça em ebulição
As ideias impedidas de funcionar
Parece um vulcão pronto a explodir
E ainda vejo o corpo jogado no chão.

Atônito percebo
Um voto sendo comprado
Uma criança passando fome
Um corpo de cerveja sendo pago na mesa
O calor é apenas distração.

Prefiro assim...

Vejo-te chorar:
Lágrimas que rolam
Uma face que se molha
Um sertão que chove.
Vejo-te, tristemente
Meu coração se parte... estilhaço de bala.
Prefiro-te o sorriso:
Um coração que se abre
Uma esperança que invade
Um propício desembarque
A vida encerrando a morte
Amor e calmaria... eternamente

Medo ( aos teus pés)

Aos teus pés prostrado
Em rezas rogando um pedaço de céu
Um pedaço de paz
Que de fato traga paz as retinas cansadas
De um mundo cansado.

Cansados de tanta dor
Cansados de tanta paz emudecida
Falecidos e sepultados
Numa cova rasa
Vivos e ainda temerosos.

Água rola como chuva
Água molha a terra
Água encharca os olhos de mãe
Mãos se juntam
E um rosário é debulhado com fé.

É paz silenciosa
É guerra ensurdecedora
É um medo de sair de casa
Um medo de falar a verdade
Um medo de pronunciar o culpado.

Batata quente de mão em mão

"Quem é que vai dar tanta coisa nessa porra?"

Será o viciado que morre
No trago viciado da morte
O culpado do crime
De estar presente no tempo
No exato momento do roubo
Será a mãe e os seus seios
Que alimentam a fome
Enquanto duram o seu despejo.

Talvez, que fosse o profeta
Tanta lucidez vanguardista
O futuro projeta
No retroprojetor das retinas
Cansadas de enxergarem o mesmo
O viciado, o hipócrita, o sujo
A morte nos cantinhos da vida
Ácido sulfúrico a corroer a matéria.

Se não são os viciados
As mães, os injustiçados
Se não são os políticos ficha limpa
Se não forem os profetas loucos
Se não for o Gentileza
Ou o grande maluco beleza
De quem será de fato a responsabilidade?
Eu, você ou ninguém?

Esperança

É esperança remota
De um velho caduco chamado tempo
De dias que passam corridos
De fatos que ocorrem
Num movimento giratório.

Perde-se a esperança
Encontra-se na esperança
Nesse vai e vem de coisas
Que hora perdemos
E outrora ganhamos.

Nesse frenético desencontro
Desacerto momentâneo
Idas e vindas
Ventos que sompram para o norte
Nordeste que ruma ao o sul.

A festa que termina
O apito final que encerra o jogo
A vela que escurece o recinto
A tinta que nomeia o lápide
De uma esperança perdida.

Dor dos infernos

Aumento o som para esquecer a dor
A dor de um esquecido
Parece estremecer os joelhos
Parece impedir meus passos
Parece ofusacar o sorriso.
Pago tua ida, se fores!
Banco as despesas, mesmo miliária
Dor dos infernos!

Isso é um porra!

Sem inspiração

Palavras presas na garganta
Espinha de peixe, indócil
Engasgam a encher os olhos d'agua
Versos entalados
Sem um punhado sequer de inspiração.

É uma vontade descontrolada
Uma raiva imprópria dos dedos
Uma mansidão contrária da mente
Inspira(ção) de fato
Pulmões inchando no ato respiratório.

Uma pausa que dita o silêncio
Um silêncio tão cruel
Que chega a formar barulho ensurdecedor
Uma teia desconexa de ideias
Sem um fio que seja a puxa-las.

NO INSPIRAÇÃO!!!

Email

26 de Fevereiro de 2010...

Hoje acordei com pensamentos em você
Lembrei-me de quando pegava sua mão
E saia cambaleando pela casa
Com àquela marcha... Lenta
Segurava tua mão
Como se tua força fosse minha
E nós... Um só!

Te amo!

Passagem

Um momento por favor
Basta o silêncio que dure a eternidade
Talvez palavras pronunciadas
Como as lágrimas dos olhos
Cessem o barulho das pálpebras
Só um silêncio quieto
Que dure passagem da morte.

Simples e lindos

Um punhado de sabores
A tua boca molhando a minha
Um trilhão de cores
Que o teu olho ilumina e encandeia
Um perfume, uma rosa
Que teu corpo transpira.

Uns versos lindos
Inspirados num raio de luz
Molhados de um calor corporal
Delicados no grau de uma flor
Leve, pluma borboleta
A girar, rodopiar na gravidade.

Uns versos simples
Do despencar da flor
O levante da poeira ao tremer do chão
Do beijo apressado
Ao arrepio inofensivo da pele
Que o corpo preenche.

Versos lindos e simples
Que teus olhos me oferecem
Que tua presença me desperta
Versos de um milhão de cores
Em tons de manhã
Simples como teu beijo suave.

Pra tu Linda!

Fez bem

Fez bem a vida
Lembrar-me de um fato
De um ato repetitível
De uma sessão da tarde
De um vale a pena ver de novo?

Esquecer parecem batalhas de sete anos
Freud exlplicar-me algo
Escutar Zé sem me embaralhar
Encarar godizila sem antes me armar
Defender canudos e ainda crêr no comunismo.

Fez muito bem a vida
Tocar-me os olhos
Motrar os caminhos, distantes e distorcidos
Fez bem...
Quebrar-me os fêmus.

Fez bem a vida
Presentear-me além da dor
Um amor, uma família
Oportunidades de chorar
Agradecer e sorrir.

Batalhando

Enfrentar dragões diariamente
Fazer chover em pleno sertão
Ergue-se amiúde
Depois de anos de guerra
Após um derradeiro disparo acidental.

Parecem ser fáceis
Bastaria uma espada e um punho
Um encaixe perfeito
Uma fortaleza
E força... O bastante para o coração pulsar.

Ar nos pulmões para respirar
Ossos firmes na sustentação
Voz que rasgue cordas vocais
Olhos de águia do alto
Audição suficiente a vibração da morte.

Esse parece ser
Um ser qualquer
Vivendo onde vivo, ao lado,
Batalhando na dor e na alegria
A um desfecho total e inadiável da vida.

Pseudopatriotismo

Invadidos por um pseudopatriotismo
Apontados na direção de um gol
Parece o Apocalipse a vantagem
Quando não propicia a vitória.

Todos esquecem das enchentes
Das casas derrubadas
Dos rios que cortam vidas
Da inanição absurda nordestina.

Todos se focam numa bola
Num círculo perfeito
Que corre num campo de batalha
Se rasgam, se chutam e gladiam.

Quando perdem e se perdem
Queimam as bandeiras
Rasgam as camisas
E ainda não lembram...

Das enchentes, da inanição, das casas derrubadas.

De volta

Um milhão de coisas
Resumidas em pedaços de olhares
Em estilhaços de balas
Em pontos de polvora
Perfuradas num corpo velho cansado.

Parece que caminhar
Incansavelmente por nos esmorecer
Parece que correr perseguindo
Um sonho, que seja, um devaneio
Pode nos fraturar como ossos.

Um milhão de olhares
Um milhão de estilhaços;
Procuro você em cada curva
Em cada ponto de viagem
No instante que dura a sua passagem.

Parece que voltar a caminhar
No edifica, às vezes, nos reconstrói
Remonta os pedaços espalhados
Norteia os caminhos perdidos
Traz de volta aquele olhar feliz.

Uma poesia triste

São tantas as voltas que a vida dá
São tanto os desencontros
São tantas as partidas sem voltas
Os beijos que se despendem
Os abraços que derradeiros confortam.

Partiu essa manhã...
Quem dera fosse apenas momentâneo
Fosse assim tão fugaz
Que em uns dias, semanas
O vento trago-os de volta.

Parece que partir
Faz parte, está empreguinado
Nessa rotina cansativa
Nessa locomotiva incansada
Nesse terminal de idas e voltas.

Pois, assim, quando a dor
Não parte, não promete viagem
Quando o instante de choro
Parece eterno e incansável
O tempo tenta encobrir os ferimentos.

Rotin(ando)

Hoje o dia amanheceu...
Claro, radiante e ensolarado.
Coisa típica que o cariri desenha
Que o cariri impõe
Toda vez que os olhos abrimos.

Mais um dia amanheceu
E a rotina, rodopia nas 24 horas do dia
Para que amanheçamos
Tipicamente como o dia anterior
Claro, radiante e ensolarada.

A rotina nos cansa amiúde
O ócio, faz-nos como relógios
Faz-nos como carros de fricção
Cansamos e nos impulsionam
Com um puxar de ré.

Então, bocejo, preguiça aparente
Parece o sono chegar
Parece querer estacionar o corpo
Jogá-lo num lugar qualquer
Mão ou contra mão da rotina de um dia.

Um belo momento

A segurança que causa-me
Na hora do descanso em teu peito
Ouvindo as batidas apressadas
De um depós momentos de carícias.

Parece sumir o mundo
Silenciar o barulho de toda agitação
Ressaltando apenas,
O baque de um peito a batucar.

Abraço-te forte, largo
Como se fizesse parte de um ritual
Como se meus braços, harmoniosamente
Pertencessem ao contorno da tua cintura.

Beijo-te, pois, o ventre
Como se assim selasse
A trajetória rodopiante da boca
Ao encontro certeiro de seus lábios.

Mais uma declaração

Quando as coisas desarrumadas
Parecem não mais ter ordem;
Assim pensava desesperado
Quando a vida desandou.

Quando apenas os analgésicos
Os antibióticos os acessos de soro
Os comprimidos, que comprimem a noite
Foram os meus maiores aliados.

Deus não desampara ninguém
Até mesmo quando dele
Não merecemos um alívio
Porém, ao nosso lado ele está.

Um presente, raro, caro e inimaginável
Fui presenteado com o mesmo.
Ingressou minha vida
E dela não quero jamais que parta.

Ordenou tudo, até minhas manhãs
Parecem mais vivas
Minhas tardes mais alegres
E minhas noites mais acompanhadas.

Eu falo de você minha linda
Que os nossos dias sejam
Tão felizes quanto já somos
E que todos os dias...

Permaneçamos juntos!
Amo-te!

O mundo

Um mundo só onde eu vivo
Tão restrito e prescrito
Quanto uma solicitação medicamentosa
Tão quadrado quando um
Dado viciado de um a seis.

É um mundo permanentemente... Só!
Tão profundo e cibernético
Quando as informações frenéticas
Que viajam rapidamente
Nas veis óticas, transparente e cristalina.

É um gole de cachaça... Brava
Que rasga a garganta no gole
Que queima o estômago
Que alucina os neurônios
Que faz o copo desandar.

É um acesso limpo de soro
É uma marcha lenta e escoltada
É um livro de poesia inacabado
É uma revelação inconstante
É uma raio de luz e uma chame de vela.

Quando...

Quando eu já não for segredo
E teus olhos me olharem rapidamente
Revelando o desconhecido mundo
Trazendo à tona a alegria
Da descoberta de um amor escondido.

Quando beijar-te já não for um sonho,
Fotografias belas lembranças
A carta de amor, fútil nostalgia
E o pensamento algo inatingível
O sol nascerá mais claro e evidente.

Quando aquecer minhas mãos
Com o toque suave e manso das suas;
Dormir e acordar serão detalhes
Corriqueiros que a vida trilha
Pois, tê-la é surrealmente real.

Quando a saudade bater no peito
A tristeza tocar o corpo
Lembro-me, pois, felizmente
Que abriste os olhos essa manhã
Contente a viver mais um dia.

Eu canto - Sol na Macambira

Eu canto o canto que ecoa de todos os cantos
É o som do mar, do vento do norte
Da pedra que quer rolar e inundar o sertão
Eu insisto no caboclo a ficar na terrinha
Plantar feijão, arroz e milho.
Eu canto a procura de Maria
Eu faço poesia, boemia, porém
Não bebo álcool e nem gasolina.

Além de Maria, chamo por Mariana
Uma mistura de mar e Ana
De brisa e calor caririense;
Danço reisado, pulo cabaçal e cirando
Rezo ao meu Padim, a Frei Damião
São Francisco e santo Antônio,
Levo uma reca de menino e mais a mulher
Sem perder a fé e nem a esperança.

Canto por aí nas andanças
De um candeeiro que não acaba
Nem a chuva é capaz de apagá-lo
É o candeeiro solar.
A fé nordestina, a vontade de lutar
A esperança que não morre jamais
Nem na guerra, na fome
E nem na falta de chuva.

Grito por aí procurando uma parte de mim
Que foi levado, que foi roubado!
Falo ainda do sangue derramado
Que brotaram rosas, encharcando o ar
De perfume, é a negra calunga.
De um beijo que o vento levou
Forte e leve direto pra Sidha
Que em oração transformou.

Pego carona na mobilete de seu Zé
Vou a Cajazeiras, rodo Juazeiro
Subo o horto e vou a Canindé
Em menos de alguns trinta minutos
Às vezes prefiro viajar lentamente
No compasso dos tropeiros
Que partem no amanhecer do dia
Tocando a burrarada.

www.bandasolnamacambira.com

Penso

Penso no dia que minhas pernas
Possam sustentar meu corpo cansado
Que as muletas, de alumínio arranhado
Virem apenas uma vaga lembrança
De um compasso já escoltado.

Penso na hora, nos minutos
Que andar não se torne um desafio
Que equilibrar-me;
Seja tão normal e simples
Quanto um respirar ofegante.

É tão fútil...
Um passo após o outro
Um pé depois do outro
Um
ação de cada vez
Uma carga para cada instante.

Penso no dia em que a dor
Que tanto o sono perturba
Possa meu corpo deixar
Eu enfim, poder, aliviado
Fazer poesia sem me incomodar.

Seja!

Se a vida tem que ser assim... Que seja!
Que as águas rolem
Que as forças fluam
Que os fêmus se quebrem
Que as lágrimas desçam.
Se a vida, sem norte flui
Se os dias nascem e morrem
Se os fatos ocorrem depressa
Se pessoas se despedem e falecem
A vida é assim ... Corriqueira.

Que seja!

Teu nome

Escrevi no papel o teu nome
Com tanta inspiração e afeto
Que uma poesia nasceu
Talvez a mais linda, mais poética.

A caneta desenhava incansável
Cada ponto final, cada vírgula
Cada declaração amorosa
Parecia um descrever profético do amor.

Escrevi o sol ilunimando teus cabelos
Assim como a lua clareando a noite
Assim como um sorriso
Contido, alegre e manso.

A caneta, enfim parou...
A tinta deixou de descer frenética
Sobrando espaço no papel branco
Apenas para o teu nome desenhar!

Mário Quintana

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia... Como uma pobre lanterna que incendiou!

Muito massa! Para você Linda, não haveria poesia mais adequada! rsrs

Versinhos

Eu trago esses simples versos
Como se eles fossem meus sentimentos
Como se cada verso, cada pedaço
Cada caquinho de poesia
Descrevesse o pulsar da emoção.

Cheio de pretensões
Porém, desprovido de saberes;
Que faça-te feliz
Em cada palavra iluminada
A clarear o seu dia.

Isolado

Olhando a minha vida de perto
Cadeira de rodas, muletas, pontos, dores...
Parece que ainda permaneço longe
Ainda na margem de erro
Na medida de dispersão!

Ainda fugindo do real;
Mesmo após dias que se passaram
Carros que já transportaram
Salários que já foram pagos
Às vezes o imaginário quer reinar.

É fraqueza? É imperfeição? É falta de coragem?
Eu não sei, eu não sei!
É tão fácil o dizer de Einstein:
“Eu só sei o que nada sei”.
Mas permaneço aqui isolado de qualquer conclusão.

Ilusão de ótica

Hoje acordei e outra parte de mim
Foi carregada para longe, distante!
Talvez um pedaço de mim ainda esteja caído
Jogada no asfaltado ainda frio
De uma manhã de sábado de certo ano.

Talvez cada mão que me carregava
Que me transportava
Uma porcentagem do meu corpo ficava
Espalhada, dilacerada, fraturada...
Inúmeras divisões, subdivisões de um despedaçado.

Um coração partido ainda pulsando
Um olhar quebrado ainda enxergando
Uma vida quase interrompida ainda vivendo;
Parece que os pontos já foram entregues
Parece ser, mas não... Ilusão de ótica.

Foi apenas uma tristeza momentânea
Revestida de uma efêmera lembrança
Agasalhada de uma nostalgia aparente
Um pensamento fugidio
De um dia que não sai do inconsciente.


Eis aqui

Escrever quando o instante despropicia
Quando vento sopra contrariando
Quando a boca diz palavras
Ferozes e de farpa cortante.

Escrever amiúde, improvisando versos
Apagando pensamentos
Excluindo desaprovações
Provocações pequenas, multiplicadas em milhares.

Esse instante escuro, nublado
Reprime-me a boca
As linhas da poesia
A voz da canção de amor.

Eis aqui milhões de coisas de afetos
Dezenas de poesias
Variadas e demasiadas declarações de amor
Não foi e nem é em vão... É real!

Certeza

Dai-me um beijo longo
Como aquele que não acaba jamais;
Beija-me lentamente
Como engarrafamento Paulista,
Abraça-me, forte, largo e nostálgico.

Tenho a única certeza
Baseado no ontem, passado
Que jamais voltará,
Da palavra dita, voraz, afiada
Da mentira falseada.

Eu, confundido, confuso, interrogando
O que? Como? Será?
A vida passa de leve, depressa
Só uma vez!
Solitária sem repetições.

Dias que fico pensando
Minutos que me prendem:
Tanto pensamento!
Tanta água no olho
Que descem, descem...

Vagarosa lembrança

Abriu-se a porta
O céu escurecido eu fitei
Chorei, sorri e calei
Mãe eu parti para longe
Do afeto de teu abraço a acalentar.

O mundo eu vi
Olhando o teto pálido
O que o branco me dizia
Quando a insônia estacionava
Que o desespero fundia
O pensamento fugaz.

Na TV assistia
O que o tempo não muda
O hipócrita, o sarcástico
Cuspindo o rosto espectador
Na madrugada fria
De falta de sonho, excesso de dor.

Doeu quando a saudade apertou
Doeu quando a porta se abriu
Doeu quando você me faltou
Doeu quando teu sorriso eu não vi.

Emudecido

Teu beijo calou-me a boca
Enclausuram as palavras
Que quase transbordavam
A invadirem teu ouvido.

O que tinhas a dizer?
O que pensavas anteriormente?
Nada além do vago pensamento;
Do mar de solidão azulado.

Atônito e emudecido;
Assim como a flor inabalável
Como a pipa silenciosa no céu a cair
Em dias quentes e sem vento.

Para onde irão meu pensamentos agora?
Para quem os direi?
Aqui escrevo desesperado
Errado e sem correções.

E o amor, novo amor;
Agora que me calou a voz
O que resta emudecido, atônito e inabalável...
Resta-me vivê-lo...

A mercê de dias continuados e infinitos!

M. linda!

Começo e fim

Por que tão leve é a vida
A morrer por besteira
A morrer por um sopro qualquer
E não por uma ventania.

Uma folha caída
Frágil e quebradiça
Que despenca do céu
Num voo sem volta e sem asas.

Assim é a morte encerrando a vida?
Ou a morte iniciando novos dias?
A vida e a morte...
Recomeço e partida.

Um pedaço de vida
Por que não por completa
Sem fim, sem despedidas
Sem choros e velas.

Viva?

Viva ao tiro da arma premeditada
Ao roubo de vidas e olhares
A partida da criança sonhadora
Do pai que saiu e não voltou
Ao velho de dezoito anos.

Viva a roleta russa
Aos miolos e sangue no quadro da parede
Viva, viva, viva
A bala perdida...
Que encontrou um peito feliz.

Viva a juventude
A velha juventude drogada
Jogada na calçada
Desprovida de sonhos e futuros
Viva a faca afiada no "bucho" do trabalhador.

Viva a sociedade alternativa?
Viva a utopia!
A falta de esperança, de prazer...
Viva, viva, viva
Ao suor escravizado do negro
alforriado.


Puta que pariu!

Tempo, temp, tem, te, t,

O tempo que corre depressa
Envelhecendo pensamentos e
processadores
O tempo que não perdoa
Nem mesmo os mais fracos
Fibras, vidro e carne.

A força da gravidada
Que nos faz curvarmos a coluna
O poder do tempo
Que nos faz andar depressa
Apressado e desmedidamente.

O sinal verde ficou e permaneceu
E espero o vermelho ansioso
Ora, um suspiro, uma pausa
Para viver devagarinho
De mansinho demasiadamente.

Espero apressado, apressando...
O tempo não nos dá trégua
Não perdoa, só condena
Espero vivendo
O dia em que o tempo parar!

Besteira

No peito partido pulsa
Um galope manso e triste
Um passo de longa idade
De eternos desencontros.

Partirei para longe de teus olhos
Perto do mar das saudades
Do céu de domingo
Do claustro de sorrisos e alegrias.

Minha linda, meu amor!
Minhas palavras se calaram
Minha voz emudeceu
Com o que pesares.

Chorei calado e sozinho
Como o velho do fim da rua
Do poeta apaixonado
Do meu eu magoado.