Caminho da fé (Romeiros)

Valei-me meu padre Cícero Romão
Nossa senhora das candeias
Meu pequeno frei Damião.

Guarda-nos no caminho de volta
Que o caminhão cheio de filhos teus
Ao destino chegue com santa escolta...


Com suas mãos sagradas
Meu padim, que o ano que entra
Eu esteja aqui e meus joelhos toquem tua casa.

Que renove minha fé e meu rosário
E minha alma se espante
E meus olhos chovam de alegria,

Quando eu tão pequeno aqui em baixo
O olhe tão grande lá em cima.
Das lágrimas que derramei,

Brotem flores de esperança
Na terra quente e seca
Do meu querido sertão.

Isac José

Flor

As flores que nascem a sós
Perfumando os quintais alheios.
Tão frágeis, tão tímidas, tão fortes.

As flores que colorem os asfaltos
Negros e movimentados.
Tão bela, tão clara, tão fixa.

As flores que enraízam corações
Que aromatiza sonhos utópicos
Que purifica anseios medonhos
Tão lindas, tão leves, tão flores.

Isac José

Último

Abraça-me e fala das coisas boas
Sussurra que o hoje passa
Amanhã nasce um novo dia e loas
Nuvens e sonhos que criam asas.

E o tempo que confunde as coisas
Que envelhece a face em linhas
Produzindo rimas norteadas
Anos de velas acesas e encantadas

O brilho da vela que o quarto clareia
Os sonhos que flutuam a mente
Que se banham no mar dos mistérios
E inundam a face de esperança

Abraça-me que o tempo voa
Beija-me, não há tempo a perder
Como se fosse o último dia
O último adeus, o último beijo, o derradeiro abraço.

Isac José

Ele fechou os olhos (primo)

As crianças brincavam na praça
Os moços flertavam às escuras.
As pipas voavam livres guiadas por cordões
Brinquedos sem culpas amontoavam-se nas calçadas.

- Quisera que fosse real!

O medo rondava os quarteirões
Camuflando-se em doces, pastilhas brancas,
E um sorriso amarelo encantador.
Com gestos puros e um aceno de dor
Um beijo falso marcava as crianças a ferro,
As rotulava com preços de mercado.

Neste dia escuro inebriante
A calmaria tomou conta do fim de tarde.
Os lobos lançaram-se no mundo
Como vampiros famintos à caça.
Trouxeram medo, temores e intolerância.
Embriagaram cada canto, cada porta, cada praça, cada vida.

No mesmo dia a criança fechou os olhos
Mas não os abriu jamais,
Pois, sabia que o mundo que a esperava,
Era hostil de mais para permanecer de olhos abertos.

Isac José

Ai Se Sêsse - Zé da Luz

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dois se impariásse;
Se juntinho nós dois vivesse!

Se juntinho nós dois morasse;
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!

Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse qui
São Pêdo não abrisse as portas do céu e fosse,te dizê quarqué toulíce?

E se eu me arriminasse e tu cum eu insistisse,
Prá qui eu me arrezorvesse
E a minha faca puxasse,e o buxo do céu furasse?

Tarvez qui nós dois ficasse,
Tarvez qui nós dois caísse
E o céu furado arriasse e as virge tôdas fugisse.

Poesia espetacular do poeta paraibano, que dizia que não era necessário um português correto, bonito, enfeitado para falar de amor, para fazer poesia. Dessa forma, o cara estava certo. E a poesia Ai se sessê, é a comprovação de que não é preciso tanta erudição para escrever e expressar os sentimentos que pulsam no peito.

Valeu Cambada!

Patativa do Assaré - O cara!

Saudade

Saudade dentro do peito
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.

Há dor que mata a pessoa
Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.

Saudade é um aperreio
Pra quem na vida gozou,
É um grande saco cheio
Daquilo que já passou.

Saudade é canto magoado
No coração de quem sente
É como a voz do passado
Ecoando no presente.

A saudade é jardineira
Que planta em peito qualquer
Quando ela planta cegueira
No coração da mulher,
Fica tal qual a frieira
Quanto mais coça mais quer.


Desilusão

Como a folha no vento pelo espaço
Eu sinto o coração aqui no peito,
De ilusão e de sonho já desfeito,
A bater e a pulsar com embaraço.

Se é de dia, vou indo passo a passo
Se é de noite, me estendo sobre o leito,
Para o mal incurável não há jeito,
É sem cura que eu vejo o meu fracasso.

Do parnaso não vejo o belo monte,
Minha estrela brilhante no horizonte
Me negou o seu raio de esperança,

Tudo triste em meu ser se manifesta,
Nesta vida cansada só me resta
As saudades do tempo de criança.



Um dos maiores poetas e o que mais leio. Faz-me lembrar da minha infância e dos violeiros no final de tarde da rádio. Esse cara terá um espaço especial, um lugar de honra e apreço. Sempre que bater a vontade, um post de uma poesia ou curiosidade sobre o Patativa postarei aqui.
Saudade Patativa!

Valeu Cambada!