Medo ( aos teus pés)

Aos teus pés prostrado
Em rezas rogando um pedaço de céu
Um pedaço de paz
Que de fato traga paz as retinas cansadas
De um mundo cansado.

Cansados de tanta dor
Cansados de tanta paz emudecida
Falecidos e sepultados
Numa cova rasa
Vivos e ainda temerosos.

Água rola como chuva
Água molha a terra
Água encharca os olhos de mãe
Mãos se juntam
E um rosário é debulhado com fé.

É paz silenciosa
É guerra ensurdecedora
É um medo de sair de casa
Um medo de falar a verdade
Um medo de pronunciar o culpado.

Batata quente de mão em mão

"Quem é que vai dar tanta coisa nessa porra?"

Será o viciado que morre
No trago viciado da morte
O culpado do crime
De estar presente no tempo
No exato momento do roubo
Será a mãe e os seus seios
Que alimentam a fome
Enquanto duram o seu despejo.

Talvez, que fosse o profeta
Tanta lucidez vanguardista
O futuro projeta
No retroprojetor das retinas
Cansadas de enxergarem o mesmo
O viciado, o hipócrita, o sujo
A morte nos cantinhos da vida
Ácido sulfúrico a corroer a matéria.

Se não são os viciados
As mães, os injustiçados
Se não são os políticos ficha limpa
Se não forem os profetas loucos
Se não for o Gentileza
Ou o grande maluco beleza
De quem será de fato a responsabilidade?
Eu, você ou ninguém?

Esperança

É esperança remota
De um velho caduco chamado tempo
De dias que passam corridos
De fatos que ocorrem
Num movimento giratório.

Perde-se a esperança
Encontra-se na esperança
Nesse vai e vem de coisas
Que hora perdemos
E outrora ganhamos.

Nesse frenético desencontro
Desacerto momentâneo
Idas e vindas
Ventos que sompram para o norte
Nordeste que ruma ao o sul.

A festa que termina
O apito final que encerra o jogo
A vela que escurece o recinto
A tinta que nomeia o lápide
De uma esperança perdida.

Dor dos infernos

Aumento o som para esquecer a dor
A dor de um esquecido
Parece estremecer os joelhos
Parece impedir meus passos
Parece ofusacar o sorriso.
Pago tua ida, se fores!
Banco as despesas, mesmo miliária
Dor dos infernos!

Isso é um porra!

Sem inspiração

Palavras presas na garganta
Espinha de peixe, indócil
Engasgam a encher os olhos d'agua
Versos entalados
Sem um punhado sequer de inspiração.

É uma vontade descontrolada
Uma raiva imprópria dos dedos
Uma mansidão contrária da mente
Inspira(ção) de fato
Pulmões inchando no ato respiratório.

Uma pausa que dita o silêncio
Um silêncio tão cruel
Que chega a formar barulho ensurdecedor
Uma teia desconexa de ideias
Sem um fio que seja a puxa-las.

NO INSPIRAÇÃO!!!