Ouso o compasso do relógio
Que raramente descansa
Que raramente perdoa
Que nunca retrocede
Que raramente enferruja.
Ao contrário do meu corpo
Que se quebra e se fratura;
O oposto do meu coração
Que amiúde se parte
E frequentemente se magoa.
Sinto o compasso...
Desse tempo louco, despretensioso
Que não envelhece, não descansa.
Sinto o peso das escolhas e dos dias
Que se vão e anoitecem sem você presente.
Nos Convém?
Sei, repetidas vezes...
Como uma canção em disco arranhado
Como ave-marias rezadas
Incansavelmente a deslizar pelos dedos
Que, o que nos convém é apenas a triste despedida.
Tudo posso, tudo quero...
É sofrimento,
É falta de paz,
Poesia anoitecida,
É quimera morta.
Tudo posso, tudo quero...
É canção para poucos
É liberdade disfarçada
É, senão, aventura noturna
De beijos e abraços no muro quintal.
Como uma canção em disco arranhado
Como ave-marias rezadas
Incansavelmente a deslizar pelos dedos
Que, o que nos convém é apenas a triste despedida.
Tudo posso, tudo quero...
É sofrimento,
É falta de paz,
Poesia anoitecida,
É quimera morta.
Tudo posso, tudo quero...
É canção para poucos
É liberdade disfarçada
É, senão, aventura noturna
De beijos e abraços no muro quintal.
Proposta
Sempre me faz propostas irrecusáveis
De viagens a qualquer lugar sob a tenda estelar
De certo, vejo-me refletido em teus olhos
Brilhantes olhos que refletem a máscara
Quase caída da minha face nua.
Os anos passados...
Vinte e poucos setembros e outubros
Já não voltam mais, apenas pó
Da lembrança quase adormecida,
Apenas sonho desse despertar matinal.
Vinte e poucos anos...
Poucas realizações, poucos projetos
Uma só vida para tantas poucas coisas
Uma só morte para tanta vida
E ainda hesito aceitar tua proposta.
...
Esses duros caminhos que nos levam a nada
Que corrompem toda força
Que exaurem toda fadiga
E que no derradeiro mistério
Apenas nos apontam a cruz.
Que corrompem toda força
Que exaurem toda fadiga
E que no derradeiro mistério
Apenas nos apontam a cruz.
Vácuo
Jogam-me pedras pela falta de fé
Mas, minhas rezas continuam mudas.
Meu rosário impuro,
Meu coração surdo
E sua presença cada vez mais ausente.
Abro meu peito ao seu encontro.
Calo-me a voz para ouvir a sua
Escureço o quarto para sua luz.
É tarde e gélida a madruga
E tão fria a sua falta.
Talvez esse vazio eterno
Das canções que não são ouvidas,
E das bocas que raramente gesticulam
Sejam um duro reflexo
Do jardim morto e esquecido dentro de mim.
Mas, minhas rezas continuam mudas.
Meu rosário impuro,
Meu coração surdo
E sua presença cada vez mais ausente.
Abro meu peito ao seu encontro.
Calo-me a voz para ouvir a sua
Escureço o quarto para sua luz.
É tarde e gélida a madruga
E tão fria a sua falta.
Talvez esse vazio eterno
Das canções que não são ouvidas,
E das bocas que raramente gesticulam
Sejam um duro reflexo
Do jardim morto e esquecido dentro de mim.
Manhã anoitecida
Cansado da mesma ladainha chorada
Das ideias que fingem convencer
Das bocas que cospem ordens
E dos teclados viciados no mesmo som.
Exausto das vozes distantes
Dos gestos de repúdio
Das inúmeras solicitações e cumprimentos
Sem sequer um agradecimento sucinto.
Secam-me as forças quando notado
Pelo tropeço, deslize e humanidade
Pelo fracasso, pela miudeza e pelo pecado
E raramente lembrado pelo êxito e pelo triunfo.
Recaio-me sobre a tristeza
Daquele girassol mumificado
Perdido, desnorteado, sem saber onde apontar
Ou direção que nasce o sol nessa manhã escurecida.